Santo Antônio de Lisboa

Santo Antônio com o Menino Jesus em pintura de Stephan Kessler



Seu nome de batismo é Fernando. Nasceu em Lisboa, Portugal, por volta do dia 15 de agosto de 1125, no seio de uma nobre família. Com 15 anos, entra para a Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Preparou-se para o sacerdócio no mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Sendo ordenado sacerdote, com 24 anos de idade, foi encaminhado à carreira de filósofo e teólogo. Mas, desejava uma vida religiosa mais severa. A reviravolta deu-se em 1220, quando chegaram à igreja de Santa Cruz os restos mortais de cinco missionários franciscanos, torturados e assassinados em Marrocos.

Da regra agostiniana à regra franciscana

Fernando decidiu deixar os Cônegos agostinianos para seguir as pegadas de São Francisco de Assis; escolheu ser chamado Antônio, para imitar o santo anacoreta egípcio. Amadureceu um forte impulso à missão e, seguindo este ideal, partiu para o Marrocos. Porém, contraiu uma doença e foi obrigado a um repouso forçado, sem poder pregar. Não teve outra opção a não ser ir para a Itália. No entanto, o navio no qual embarcou, naufragou no golfo da Sicília. Tendo-se restabelecido, em 1221, foi parar em Assis, onde Francisco havia convocado todos os seus frades. Esta foi uma ocasião propícia para conhecê-lo pessoalmente, não obstante tenha sido um encontro simples. Revigorando sua escolha de seguir a Cristo, na fraternidade Franciscana, Antônio foi enviado ao eremitério de Montepaolo, na Romanha. Ali, dedicou-se, sobretudo, à oração, meditação, penitência e trabalhos humildes.

Antônio pregador

Em setembro de 1222, Antônio foi enviado a fazer pregação em Forlì, onde revelou seu talento. Das suas palavras emergiram uma profunda cultura bíblica e simplicidade de expressão. A Assidua, a primeira biografia de Santo Antônio, narra: “A sua língua, movida pelo Espírito Santo, começou a raciocinar sobre muitos assuntos, com ponderação, de modo claro e conciso”. Desde então, Antônio começou a percorrer o norte da Itália e o sul da França, pregando o Evangelho aos povos e povoados, muitas vezes confusos pelas heresias do tempo, sem poupar críticas contra a decadência moral de alguns expoentes da Igreja. No ano seguinte, em Bolonha, foi mestre de Teologia para os frades que se formavam. Foi o próprio Francisco que, com uma carta, conferiu-lhe este encargo, autorizando-o a ensinar e recomendando-lhe também a não se descuidar da oração.

A escolha de Pádua

Pelos seus talentos, que Antônio demonstra saber colocar ao serviço do Reino de Deus, com 32 anos foi nomeado superior das Fraternidades franciscanas do norte da Itália. Ao cumprir tal função, visitou, incansavelmente, os numerosos Conventos, sob a sua jurisdição, e abriu outros. No entanto, continuou a atrair grandes multidões com suas pregações, transcorrendo diversas horas no confessionário e a reservar, para si, momentos de retiro em solidão. Decidiu estabelecer-se em Pádua, junto à pequena comunidade franciscana da igreja de Santa Maria Mater Domini. Não obstante a sua pouca presença, instaurou com a cidade um forte ligação, prodigalizando em prol dos pobres e contra as injustiças. Precisamente em Pádua, teriam sido escritos os Sermones, um tratado para instruir os coirmãos à pregação do Evangelho e ao preceito dos Sacramentos, sobretudo, da penitência e da Eucaristia.

A pregação da Quaresma, em 1231, é considerada seu testamento espiritual, à qual se deve incluir a sua dedicação amorosa, por horas e horas, às confissões. Após as celebrações pascais, abatido por problemas de saúde e consumido pela fadiga, Antônio aceitou retirar-se por um período de convalescença; depois, com alguns coirmãos, aceitou o convite de um período de descanso e de meditação em um pequeno eremitério, em Camposampiero, a poucos quilômetros de Pádua. Pediu que lhe fosse adaptado um simples refúgio sobre uma grande nogueira, onde transcorrer os dias em contemplação e em contato com a gente humilde da periferia do campo, voltando para o eremitério só à noite. Ali, deu-se a visão do Menino Jesus.

No dia 13 de junho, Antônio sentiu-se mal; entendendo que a sua hora se aproximava, pediu para morrer em Pádua. Foi transportando por um carro de boi, mas, ao chegar à Arcella, um bairro às portas da cidade, expirou murmurando: “Vejo o meu Senhor!”.

Reconhecido pela influência de Santo Agostinho, Antônio conjugou, de modo original, mente e coração, pesquisa teórica, prática das virtudes, estudo e oração. Doutor da Igreja, Santo Antônio é simplesmente chamado em Pádua como “o Santo”.

Fonte: Vaticano

Papa Francisco - Evangelho e palavra do dia - o pensamento do dia (Áudio)

Papa Francisco


LEITURA DO DIA

PRIMEIRA LEITURA

Leitura do Livro do Gênesis 3,9-15

Depois que o homem comeu da fruta da árvore,
o Senhor Deus chamou Adão, dizendo:
'Onde estás?'
E ele respondeu:
'Ouvi tua voz no jardim,
e fiquei com medo,
porque estava nu;
e me escondi'.
Disse-lhe o Senhor Deus:
'E quem te disse que estavas nu?
Então comeste
da árvore,
de cujo fruto te proibi comer?'
Adão disse:
'A mulher que tu me deste por companheira,
foi ela que me deu
do fruto da árvore,
e eu comi'.
Disse o Senhor Deus à mulher:
'Por que fizeste isso?'
E a mulher respondeu:
'A serpente enganou-me e eu comi'.
Então o Senhor Deus disse à serpente:
'Porque fizeste isso, serás maldita
entre todos os animais domésticos
e todos os animais selvagens!
Rastejarás sobre o ventre
e comerás pó todos os dias da tua vida!
Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a dela.
Esta te ferirá a cabeça
e tu lhe ferirás o calcanhar'.

SEGUNDA LEITURA

Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios 4,13-18-5,1

Irmãos:
Sustentados pelo mesmo espírito de fé,
conforme o que está escrito:
'Eu creio e, por isso, falei',
nós também cremos e, por isso, falamos,
certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus
nos ressuscitará também com Jesus
e nos colocará ao seu lado, juntamente convosco.
E tudo isso é por causa de vós, para que
a abundância da graça em um número maior de pessoas
faça crescer a ação de graças para a glória de Deus.
16Por isso, não desanimamos.
Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando,
o nosso homem interior, pelo contrário,
vai-se renovando, dia a dia.
Com efeito, o volume insignificante
de uma tribulação momentânea
acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável.
E isso acontece,
porque voltamos os nossos olhares para as coisas
invisíveis e não para as coisas visíveis.
Pois o que é visível é passageiro,
mas o que é invisível é eterno.
De fato, sabemos que,
se a tenda em que moramos neste mundo for destruída,
Deus nos dá uma outra moradia no céu
que não é obra de mãos humanas, mas que é eterna.

EVANGELHO DO DIA

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 3,20-35

Naquele tempo:
Jesus voltou para casa com os seus discípulos.
E de novo se reuniu tanta gente
que eles nem sequer podiam comer.
Quando souberam disso,
os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo,
porque diziam que estava fora de si.
Os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém,
diziam que ele estava possuído por Belzebu,
e que pelo príncipe dos demônios
ele expulsava os demônios.
Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas:
'Como é que Satanás pode expulsar a Satanás?
Se um reino se divide contra si mesmo,
ele não poderá manter-se.
Se uma família se divide contra si mesma,
ela não poderá manter-se.
Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e
se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído.
Ninguém pode entrar na casa de um homem forte
para roubar seus bens, sem antes o amarrar.
Só depois poderá saquear sua casa.
Em verdade vos digo:
tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados,
como qualquer blasfêmia que tiverem dito.
Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo,
nunca será perdoado,
mas será culpado de um pecado eterno'.
Jesus falou isso, porque diziam:
'Ele está possuído por um espírito mau'.
Nisso chegaram sua mãe e seus irmãos.
Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo.
Havia uma multidão sentada ao redor dele.
Então lhe disseram:
'Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura'.
Ele respondeu:
'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?'
E olhando para os que estavam sentados ao seu redor,
disse: 'Aqui estão minha mãe e meus irmãos.
Quem faz a vontade de Deus,
esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe'.

PALAVRAS DO SANTO PADRE

É duro ouvir Jesus dizer isto, mas é Ele quem o diz, e se o diz é verdade. Até as blasfêmias serão perdoadas! “Mas quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo não será perdoado eternamente”. Quem blasfema sobre isto, fá-lo sobre o fundamento do amor de Deus, que é a redenção, a recriação; blasfema sobre o sacerdócio de Cristo. “Mas o Senhor é maldoso, não perdoa? –Não! O Senhor perdoa tudo! Mas quem diz tais coisas está fechado ao perdão, não quer ser perdoado, nem se deixa perdoar”. Esta é a fealdade da blasfêmia contra o Espírito Santo: não se deixar perdoar, porque renega a unção sacerdotal de Jesus feita pelo Espírito Santo.

(Santa Marta 23 de janeiro de 2017)

São Justino, filósofo e mártir

São Justino, filósofo, teólogo e mártir

Hoje é 1º de junho, dia em que a Igreja Católica Apostólica Romana escolheu para a festa de São Justino, filósofo, teólogo e mártir. Este santo da Igreja sonhava em ver Deus face a face.

Conseguir conhecer a Deus face a face é possível, mas esta pessoa, como São Justino, de mente aguda e alma sensível, teve que partir de longe, como pagão. Ele viveu na Samaria, no século I d.C., e cresceu nutrindo-se de filosofia. Os mestres do pensamento grego foram aquela luz que acompanhou o Santo na sua busca do Ser infinito, que seduz pelo conhecimento e que, se pudesse, chegaria perto e até o explicaria com a força da racionalidade.

Decepcionado com as filosofias

A “visão de Deus”, para Justino, é a finalidade da filosofia. Mas, qual corrente de pensamento é capaz de chegar pelo menos perto? O samaritano de Flávia Neópolis, sua cidade natal, bateu à porta de estoicos e pitagóricos. Porém, ninguém soube oferecer-lhe um meio para atingir aquela sua meta tão ambiciosa. O coração de Justino aqueceu-se um pouco mais ao encontrar um pensador platônico. E, decidido a prosseguir nesta busca, distante do barulho das cidades, escreveu: “O conhecimento das realidades integradas e a contemplação das ideias excitavam a minha mente...”.

Pode falar de Deus quem o conhece

No lugar retirado que escolheu, - descreve em seu “Diálogo com Trifão”, - encontrou uma pessoa idosa com quem discutiu sobre a pessoa de Deus. Porém, o esforço de se chegar a uma definição perfeita viola o obstáculo de uma consideração: se um filósofo, - observa o idoso, - nunca viu nem ouviu a voz de Deus, como pode ter, sozinho, uma ideia sobre Ele? Então, o diálogo prossegue em direção aos Profetas: falaram de Deus, durante séculos, e profetizaram, em seu nome, sobre a vinda do Filho de Deus ao mundo. Eis a reviravolta da sua vida: Justino converteu-se ao cristianismo e, por volta do ano 130, em Éfeso, recebeu o Batismo.

O gênio a serviço do Evangelho

Com o passar do tempo, Justino se desloca para Roma, onde funda uma escola filosófica, e se torna um anunciador incansável de Cristo entre os estudiosos pagãos. Escreve e fala de Deus que, finalmente, conseguiu conhecer, mediante a categoria e a linguagem dos filósofos. Utilizou, sobretudo, sua inteligência e habilidade dialética em defesa dos cristãos perseguidos, como demonstram as suas duas “Apologias”. Justino ataca, de modo particular, os caluniadores da sua profissão, mas o confronto em público com o filósofo Crescente, - anticristão férreo, apoiado pelo poder, - foi fatal. Justino foi preso, por ironia do destino, como “ateu”, isto é, como subversor e inimigo do Estado. Assim, foi decapitado, com outros seis companheiros, por volta de 165, sob o império de Marco Aurélio.

Inesquecível por mais de dois mil anos

A fama do missionário-filósofo, do qual se deve a mais antiga descrição da liturgia eucarística, torna-se eterna. Inclusive o Concílio Vaticano II citou seu ensino em dois grandes documentos: a “Lumen gentium” e a “Gaudium et spes”. Para Justino, o cristianismo é a manifestação histórica e pessoal do Logos na sua totalidade. Por isso, afirmou: “Tudo o que de bom foi dito, por qualquer um, pertence a nós, cristãos”.

Créditos: Vaticano

Padroeiro da Igreja Universal: São José, Esposo da Virgem Maria

São José, Esposo da Virgem Maria
     A devoção  a São José na Igreja Católica é antiquíssima. A Igreja do Oriente celebra-lhe a festa desde o século nono, tendo os Carmelitas introduzido tal festa na Igreja ocidental. Os Franciscanos em 1399 já festejavam a comemoração do santo Patriarca. Xisto IV inseriu-a no breviário e no missal; Gregório XV generalizou-a em toda a Igreja. Clemente XI compôs o ofício com os hinos para o dia 19 de março e colocou as missões da China sob a proteção de São José. Pio IX introduziu, em 1847, a festa do Patrocínio de São José e, em 1871 declarou-o PADROEIRO DA IGREJA CATÓLICA; Leão XIII e Benedito XV recomendaram aos fiéis a devoção a São José, de um modo particular, chegando este último Papa a inserir no missal um prefácio próprio.

     Nada sabemos a respeito  da infância de São José, tampouco da vida que levou, até o casamento com Maria Santíssima. Os santos Evangelhos não nos dizem cousa alguma a respeito; limitam-se apenas a afirmar que  José era justo, o que  quer dizer: José era cumpridor da lei, homem santo.

     Que a virtude e santidade de São José foram extraordinárias, vemos pela grande missão que Deus lhe confiou. Segundo a Doutrina de São Tomás de Aquino, Deus confere as graças e privilégios à medida da dignidade e da elevação do estado, a que destina o indivíduo. Pode imaginar-se dignidade maior que a de S. José que, pelos desígnios de Deus, devia ser esposo de Maria Santíssima e pai nutrício de seu divino Filho?  Maria Santíssima, consentindo no enlace com o santo descendente de David, não podia ter outra cousa em mira, senão uma garantia para o futuro, uma defesa de sua virtude e uma satisfação perante a sociedade, visto que no Antigo Testamento não era conhecida, e muito menos considerada, a vida celibatária. Celebrando o contrato, Maria Santíssima certamente o fez com  a garantia absoluta da pureza virginal, que por inspiração divina votara a Deus.

     Ao realizar-se a grandiosa obra da Encarnação do Verbo , o Arcanjo Gabriel comunicou-se o grande mistério, que nela se havia de realizar e, após pronunciar o "fiat", consentindo sua maternidade operada pelo Espírito Santo, deixou São José em completa ignorância. Com esse consentimento, dirigiu-se à casa de Isabel, onde se demorou três meses e, de volta para casa, seu estado causou no espírito se São José as mais graves preocupações e cruéis  dúvidas. A virtude e a santidade da esposa estavam acima de qualquer  suspeita, não lhe permitindo explicação menos favorável. Nesta perplexidade invencível, resolveu abandonar a esposa e, quando tudo já estivesse providenciado para a partida, um Anjo do Senhor lhe aparece em sonhos e lhe diz: : "José, filho de Davi, não temas admitir Maria, tua Esposa, porque o que nela se operou é obra do Espírito Santo". Foram assim de vez dissipadas as negras nuvens do espírito de José. Com quanto respeito, com quanta atenção não teria tratado aquela, que pela fé sabia ser o tabernáculo vivo do Messias.

     Ignora-se quando São José  morreu. Há razões que fazem supor que o desenlace se  tenha dado antes da vida pública de Jesus  Cristo. Certamente não se achava mais vivo quando seu Filho morreu na cruz; do contrário não se explicaria porque Jesus recomendou a Mãe a São João Evangelista, não tendo por isto razão, se estivesse vivo São José.

     Que morte santa terá tido o pai nutrício de Jesus! Que felicidade morrer nos braços do próprio Jesus Cristo, tendo à cabeceira a Mãe de Deus! Mortal algum teve igual ventura. A Igreja com muita razão invoca São José como padroeiro dos moribundos e os cristãos se  lhe dirigem com confiança, para alcançar a graça de uma boa morte.

     Não existem relíquias de S. José, tampouco sabe-se algo do lugar onde foi sepultado. Homens ilustrados e versados nas ciências teológicas houve e há  que defendem a opinião que S. José, em atenção a sua alta posição e grande santidade, foi, como São João Batista, santificado antes do nascimento e já gozava de corpo e alma da glória de Deus no céu, em companhia de Jesus, seu Filho e Maria, sua Santíssima esposa.

     Grande deve ser a nossa confiança na intercessão de S. José. Não há pessoa, não há classe que não possa, que não deva se lhe dirigir. Santa Tereza, a grande propagandista da devoção a São José, chegou a dizer: "Não me lembro de ter-me dirigido a São José, sem que tivesse obtido tudo que pedira".

Reflexões

     São José é um dos grandes santos a que a Igreja patenteia a maior devoção e confiança. E com razão! O Esposo de Maria Santíssima, o pai putativo de Cristo, tendo recebido de Deus as  mais honrosas distinções, quão caro não deve ser ao Onipotente, quanto poder não deve ter sobre o coração do Divino Filho. Recorram, pois, àquele  modelo de vida oculta e contemplativa os que escolheram para si o melhor modelo de perfeição. Recorram todos a São José para obter a pureza do corpo, da alma e do espírito. Ele é o advogado dos agonizantes porque só ele, entre os mortais, teve a graça de expirar nos braços de Jesus e Maria.

Há 744 anos morria Santo Tomás de Aquino


     A filosofia de Tomás de Aquino foi lapidada no curto período em que ele viveu [1225-1274]. Contudo, o seu legado perdurou para além do seu século.

     São inúmeras as fontes de inspiração de sua filosofia. O percurso de formação do seu pensamento supõe as influências gregas, especialmente a do filósofo Aristóteles, influências árabes, particularmente dos filósofos Avicena e Averróis e, inclusive, judaicas, em especial, de Avicebrão e Maimônides, incluindo obviamente as latinas, como a do filósofo Boécio e, certamente, a de filosofias cristãs, como a de Santo Agostinho.

     Todas as fontes gregas de inspiração para o Tomismo se afunilam na influência de Aristóteles, a quem o Aquinate denominou Filósofo. Tomás conhece as principais teorias e filósofos do pensamento grego. Muito provavelmente as conhece sob a crítica aristotélica. Não conhece de primeira mão, por exemplo, as obras de Platão, mas pelas referências do Estagirita e dos comentadores ou intérpretes das principais doutrinas platônicas, cuja influência sobre o seu pensamento é-nos hoje notória Aristóteles é, por excelência, a fundamental fonte grega de inspiração do seu pensamento. Mas, Tomás não cristianizou Aristóteles, embora tenha sido profundo conhecedor, comentador, intérprete e divulgador do seu pensamento. Só para termos uma exata idéia disso, bastaria dizer que, talvez, sem os comentários de Tomás, Aristóteles permanecesse mudo para o Ocidente cristão. M. Grabmann analisou e colocou em evidência a originalidade e a eficiência do método tomasiano nestes comentários. Apesar disso, há de se notar que a filosofia de Aristóteles não é a do Aquinate, embora, como bem destacou F. Steenberghen, sua leitura sobre algumas doutrinas polêmicas aristotélicas foram muito importantes para o contexto medieval, porque desvelaram não só o valor da doutrina aristotélica, mas também uma espécie de ‘aristotelismo radical’ do Aquinate. Por isso, não convém, sem mais, assumir que a filosofia de Tomás seja aristotélica ou, como H. Meyer sustentou, que ele tenha fundado o aristotelismo cristão no medievo.

     Ainda que seja uma excelente introdução ao pensamento de Tomás, J. Gredt sugere, equivocamente, haver uma total correspondência entre ambas as filosofias, o que não é verdade.

     Tomás bebeu especialmente das fontes dos santos doutores e por tê-los profundamente venerado herdou, de certo modo, a inteligência de todos.

     Santo Agostinho é seu teólogo preferido. Nenhum outro Padre da Igreja o influenciou mais do que o Bispo de Hipona. Nem por isso só o repetiu, senão também que ampliou e mesmo corrigiu e negou algumas de suas teses.

     Mas isso em nada diminuiu a deferência por Agostinho. Amigo espiritual e intelectual para as principais questões filosóficas e teológicas, Tomás supera seu mestre ao menos na coroa da virgindade, pois sobre a santidade do Aquinate, Alberto da Brescia nos conta em seu testemunho para a canonização de Tomás, acerca de uma visão que Alberto Magno teve, na qual Santo Agostinho fez um elogio a Tomás: “foi igual a mim em glória, exceto que me excedeu com a auréola da virgindade”.

     Ele conheceu as doutrinas dos Padres da Igreja, mas, também, as principais doutrinas dos pensadores do seu tempo, particularmente as do seu mestre Alberto Magno. Mas não só as sentenças deste, senão de quase todos os seus contemporâneos, embora, por exigência de respeito acadêmico, hábito da época, ele não citasse nominalmente seus contemporâneos vivos, costume nem sempre seguido por todos.

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O trabalho da vinha

Domingo da Septuagésima: O trabalho da vinha

   Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. Disse-lhes Ele: Ide também vós para vinha e vos darei o justo salário (Mt 20, 3).


   Nestas palavras, podemos notar quatro coisas:

   1. A bondade do Senhor, que saiu, isto é, a fim de salvar seu povo. Pois que Cristo tenha saído para conduzir os homens para a vinha da justiça foi deveras um ato de infinita bondade.

   De Nosso Senhor é dito que saíra cinco vezes. Ele saiu no princípio do mundo, como semeador, a semear suas criaturas — Saiu o semeador a semear a sua semente (Lc 8, 5). Depois, em sua atividade, para iluminar o mundo — até que sua justiça brilhe como a aurora (Is 62, 1). Em sua Paixão, para salvar os seus do poder do demônio e de todos os males — De repente minha justiça chegará, minha salvação vai aparecer (Is 51, 5).

   Ele sai como o pai de família, cuidando de seus filhos e de seus bens — O Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha (Mt 20,1). Por fim, ele saiu para o julgamento, e de três formas: para fazer rigoroso inquérito contra os perversos, como um supervisor; para abater os rebeldes, como um poderoso lutador; e, como um juiz, para punir, conforme seus merecimentos, os criminosos e malfeitores.

   2. A estultice dos homens.

   Pois nada é mais tolo do que, nesta vida presente, na qual os homens devem trabalhar para que possam viver eternamente, viver na ociosidade — viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. Tal praça é esta nossa vida presente. Pois é na praça que os homens discutem e compram e vendem; e, portanto, a praça significa a nossa vida cotidiana, cheia de afazeres, de compras e vendas, e na qual também as perspectivas da graça e da glória celeste são vendidas em troca de boas obras.

   Esses trabalhadores são chamados de ociosos porque já deixaram passar uma parte de suas vidas. E não só os malfeitores são chamados de ociosos, mas também aqueles que não fazem o bem. E assim como os ociosos nunca alcançam os seus fins, assim também será com esses. O fim do homem é a vida eterna. Aquele, portanto, que trabalha apropriadamente possuirá aquela vida, se não for um ocioso.

   É grande tolice viver sem fazer nada nesta vida; pois da ociosidade, assim como de um mau professor, nós tiramos maus ensinamentos; por ela chegamos a perder o bem que dura para sempre; e pela curta ociosidade desta vida, sujeitamo-nos a uma labuta que é eterna.

   3. A necessidade de trabalhar na vinha do Senhor — Ide também vós para vinha.
 
   A vinha à qual os homens são enviados para trabalhar é a vida da bem-aventurança, na qual há tantas árvores quanto há virtudes. Devemos trabalhar nesta vinha de cinco maneiras: plantando nela boas obras e virtudes; arrancando-lhe pela raiz e extirpando-lhe os espinhos, isto é, nossos vícios; podando-lhe os ramos supérfluos — podará todo [ramo] que der fruto, para que produza mais fruto (Jo 15, 2); mantendo distantes dela as raposas, isto é, os demônios; e guardando-a dos ladrões, isto é, mantendo-nos indiferentes ao louvor e à reprovação da humanidade.

   4. A utilidade do trabalho.

   O salário daqueles que trabalham na vinha é um denário, que vale mais do que mil ciclos de prata. Isto é o que nos ensina a Escritura: Salomão tinha uma videira; [...] cada um devia dar mil siclos de prata pelos frutos colhidos (Ct 8, 11). Os mil siclos de prata são as mil alegrias da eternidade, que são significadas pelo denário.

Sermones, Pars 1, n. 31
   

A indulgência plenária é um gesto que tem sabor de eternidade

Um pedacinho de divino enxertado na terra. No fundo, basta pouco para escancarar o escrínio dos “bens espirituais e sobrenaturais” que co...