Há 744 anos morria Santo Tomás de Aquino


     A filosofia de Tomás de Aquino foi lapidada no curto período em que ele viveu [1225-1274]. Contudo, o seu legado perdurou para além do seu século.

     São inúmeras as fontes de inspiração de sua filosofia. O percurso de formação do seu pensamento supõe as influências gregas, especialmente a do filósofo Aristóteles, influências árabes, particularmente dos filósofos Avicena e Averróis e, inclusive, judaicas, em especial, de Avicebrão e Maimônides, incluindo obviamente as latinas, como a do filósofo Boécio e, certamente, a de filosofias cristãs, como a de Santo Agostinho.

     Todas as fontes gregas de inspiração para o Tomismo se afunilam na influência de Aristóteles, a quem o Aquinate denominou Filósofo. Tomás conhece as principais teorias e filósofos do pensamento grego. Muito provavelmente as conhece sob a crítica aristotélica. Não conhece de primeira mão, por exemplo, as obras de Platão, mas pelas referências do Estagirita e dos comentadores ou intérpretes das principais doutrinas platônicas, cuja influência sobre o seu pensamento é-nos hoje notória Aristóteles é, por excelência, a fundamental fonte grega de inspiração do seu pensamento. Mas, Tomás não cristianizou Aristóteles, embora tenha sido profundo conhecedor, comentador, intérprete e divulgador do seu pensamento. Só para termos uma exata idéia disso, bastaria dizer que, talvez, sem os comentários de Tomás, Aristóteles permanecesse mudo para o Ocidente cristão. M. Grabmann analisou e colocou em evidência a originalidade e a eficiência do método tomasiano nestes comentários. Apesar disso, há de se notar que a filosofia de Aristóteles não é a do Aquinate, embora, como bem destacou F. Steenberghen, sua leitura sobre algumas doutrinas polêmicas aristotélicas foram muito importantes para o contexto medieval, porque desvelaram não só o valor da doutrina aristotélica, mas também uma espécie de ‘aristotelismo radical’ do Aquinate. Por isso, não convém, sem mais, assumir que a filosofia de Tomás seja aristotélica ou, como H. Meyer sustentou, que ele tenha fundado o aristotelismo cristão no medievo.

     Ainda que seja uma excelente introdução ao pensamento de Tomás, J. Gredt sugere, equivocamente, haver uma total correspondência entre ambas as filosofias, o que não é verdade.

     Tomás bebeu especialmente das fontes dos santos doutores e por tê-los profundamente venerado herdou, de certo modo, a inteligência de todos.

     Santo Agostinho é seu teólogo preferido. Nenhum outro Padre da Igreja o influenciou mais do que o Bispo de Hipona. Nem por isso só o repetiu, senão também que ampliou e mesmo corrigiu e negou algumas de suas teses.

     Mas isso em nada diminuiu a deferência por Agostinho. Amigo espiritual e intelectual para as principais questões filosóficas e teológicas, Tomás supera seu mestre ao menos na coroa da virgindade, pois sobre a santidade do Aquinate, Alberto da Brescia nos conta em seu testemunho para a canonização de Tomás, acerca de uma visão que Alberto Magno teve, na qual Santo Agostinho fez um elogio a Tomás: “foi igual a mim em glória, exceto que me excedeu com a auréola da virgindade”.

     Ele conheceu as doutrinas dos Padres da Igreja, mas, também, as principais doutrinas dos pensadores do seu tempo, particularmente as do seu mestre Alberto Magno. Mas não só as sentenças deste, senão de quase todos os seus contemporâneos, embora, por exigência de respeito acadêmico, hábito da época, ele não citasse nominalmente seus contemporâneos vivos, costume nem sempre seguido por todos.

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