Memória de Santo Tomás de Aquino

   Inteligência admirável e portentosa, Santo Tomás não foi menos agraciado por Deus em sua vontade e coração singulares, que aderiram com amor fervente à Verdade meditada e estudada.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 3, 22-30)
Naquele tempo, os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Beelzebul, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios. Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: “Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se. Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa.
Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno”. Jesus falou isso, porque diziam: “Ele está possuído por um espírito mau”.
   A Santa Igreja Católica se enche hoje de alegria ao celebrar a memória do seu maior e mais insigne Doutor, Santo Tomás de Aquino, burilado com singular esmero pela divina Sabedoria para ser mestre imbatível de todos os cristãos. Tão grande é a autoridade de Santo Tomás aos olhos da Igreja que, não à toa, ela o considera, ao lado de S. Paulo Apóstolo e de S. Agostinho, uma de suas colunas mestras em matéria doutrinal e teológica. Inumeráveis documentos pontifícios atestam sem margem a dúvidas esse sentir comum que atravessa já sete séculos. Não é exagero afirmar, com efeito, que, mesmo antes de sua morte, não houve Pontífice, de Alexandre IV até os dias de hoje, que não tenha encarecido e recomendado vivamente a obra do Aquinate, na qual a razão humana — escrevia o Papa Leão XIII — alçou-se aos mais elevados cumes que lhe são possíveis, e a fé encontrou nas forças naturais da razão os mais numerosos e válidos auxílios para defender-se dos seus impugnadores (cf. Encíclica Aeterni Patris, de 4 ago. 1879).

   Mas se a Igreja tem a Santo Tomás em tão grande em estima por causa do valor perene e inconcusso dos seus escritos, nem por isso o deixa de propor aos fiéis como modelo de santidade singular. Seria, pois, uma grave desfiguração querer ver nele um intelectual ensimesmado, metido em seu escritório sem interesse algum pela vida ou pelos irmãos. Antes, pelo contrário, a história demonstra claramente que à grandeza de sua inteligência estava unida sempre uma vontade não menos agraciada, que o fazia amar intensamente e degustar com não menor fruto as verdades que com tanto gênio ele investigou, dilucidou e defendeu, em favor das gerações futuras e para triunfo da Santa Igreja Romana. Mas, se quisermos saber melhor como era de feições esse coração por trás de uma Suma Teológica, basta-nos recordar aquele conhecido episódio em que, diante do crucifixo que lhe perguntara: “Escreveste bem a meu respeito, Tomás. Que queres em recompensa?”, ele se limitou a responder, com a humildade e a santa pretensão de quem só se satisfaz com o único necessário, o amor de Cristo: “Nada além de ti, Senhor”. Encomendemo-nos hoje e sempre à intercessão de Santo Tomás de Aquino, jóia e ornamento incomparável da Madre Igreja e dom preciosíssimo do céu. Que Deus nos conceda, pelo méritos e preces do Doutor Comum, poder imitar na terra as virtudes de tão grande santo e participar, tanto quanto nos for possível, da ciência de tão grande sábio. — Santo Tomás de Aquino, rogai por nós!

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